Pregadores Mirins. Chamada ou influência?
É benéfico para uma
criança? O que a psicologia diz sobre o assunto?
O que pensa o
ministério da igreja? É teologicamente correto?
O que antes era motivo de chacota, hoje ser evangélico parece
ser moda e quando se trata de criança “prodígio”, vira notícia na mídia. Nunca
houve tanta evidência de pregadores mirins como nos últimos anos nos veículos de
comunicação. A televisão tem inserido em suas programações, o que há alguns
anos vem ocorrendo dentro das igrejas. Meninos e meninas que pregam em
púlpitos, agora tomam boa parte de talkshows
promovendo o evangelho e dizendo aos telespectadores que receberam uma
chamada divina para tal missão. Mas isto é benéfico para uma criança? O que diz
a psicologia? O que pensa o ministério da igreja? Existe base teológica para isso?
A revista Época publicou na edição 644 (20 de setembro de
2010) uma matéria intitulada “Uma menina superpoderosa” que relata a história
de Alani Santos, uma garota de apenas seis anos de idade, que vive em
Alcântara, Rio de Janeiro. Filha do pastor Adauto Santos, da igreja Pentecostal
dos Milagres, ela é conhecida como a missionarinha Alani. Ela ainda não prega,
mas após os sermões de seu pai, ela entra em cena fazendo orações por pessoas
enfermas, o que resulta em algumas pessoas curadas.
Associando o nome da igreja ao papel que a pequena Alani faz
depois das pregações de seu pai, será que foi uma imposição ou ela, com apenas
seis anos de idade, tomou esta iniciativa? A revista afirma que nos cultos, o pastor
Adauto repete várias vezes que a própria pessoa é culpada por sua doença, por
não exercer sua fé. Enquanto isso, a pequena Alani continua orando pelos
enfermos e recebe vários convites para ministrar orações por curas divinas em
outras igrejas.
No programa SuperPop (REDETV), apresentado por Luciana Gimenez,
é onde os pequenos notáveis encontram mais espaço. A chamada pastorinha Ana
Carolina, da cidade do Rio de Janeiro, hoje com 16 anos de idade, já
freqüentava o talkshow desde pequena.
Alega que com quatro anos de idade começou seu ministério e que já pregou no
maior evento missionário do mundo, GMUH - Gideões Missionários da Última Hora. Ela já esteve no Raul
Gil, Gugu Liberato, Leda Nagle (Rede Brasil), Wagner Montes (CNT) e na Márcia
Goldsmith (Band), mas sua entrevista com a apresentadora Gimenez no
final do ano passado durou cerca de dez minutos, o que não é pouco num programa
de televisão. Com um tom de voz rouca, típico de quem prega com freqüência, ela mostra habilidade na sua
entrevista e aproveita para anunciar que Deus pode fazer milagres.
Para a psicóloga Carla Oliveira Mello Mota, da OBPC (O Brasil
Para Cristo - Mandaqui), muitas vezes a criança tem vontade de imitar um líder
influente. Ela se identifica, imagina-se pregando, em evidência, ensinando e
admoestando o público, demonstrando um sentimento de superioridade em relação
os demais.
Quando perguntei se esses pregadores mirins tomam decisão
própria ou são influenciadas, Carla disse que depende muito da faixa etária
deste pregador, como foi educado e se tem um bom referencial cristão para
seguir e imitar. Porém sabe-se que o adulto influencia muito para tomada de
decisões e determinam a realização desta função para a satisfação própria e não
da criança - o que é prejudicial - pois cada um deve ter a capacidade e a
liberdade para escolher o que deseja fazer.
Ela ainda alerta para as conseqüências de uma postura
precoce: “Quando pais, familiares, líderes espirituais desrespeitam as vontades
infantis e depositam suas expectativas nos pregadores mirins, prejudicam o
desenvolvimento emocional destes. Por respeito e obediência aos pais ou líderes
espirituais, a criança desempenha a função contrariada, deixa de vivenciar
situações cotidianas que para sua idade seriam naturais e normais para
satisfação dos outros que admiram. Normalmente, quando os pregadores mirins se
tornam independentes, muitas vezes se revoltam com todos e até se desviam do
evangelho”.
O pastor, teólogo e escritor Ciro Sanches, que intitulou em
seu blog “Pregadores Mirins ou miniaturas de animadores de auditório?”, diz que
os chamados pregadores mirins são miniaturas dos pregadores malabaristas.
Afirma que empregam bordões como “Ei, psiu, diga para o seu irmão: Sonhador não
morre!”, e ainda “Crente que não faz barulho esta com defeito de fabricação”, além
de terem trejeitos, berrarem ao microfone, correrem de um lado para o outro e darem
golpes no ar. “Ora, Deus usa a quem quer e como quer, inclusive meninos,
adolescentes e jovens como Samuel, Davi, Josias, o menino Jesus, Timóteo, etc.
Mas não podemos aceitar com naturalidade a exploração infantil, o mecanicismo e
o artificialismo. Além disso, não devemos tolerar, nos infantes, a soberba, o
comportamento de celebridade e a imitação de um modelo que não está de acordo
com a pregação cristocêntrica, ainda que usemos como justificativa o fato de as
crianças serem ingênuas e, até certo ponto, inocentes”, afirma Ciro Sanches.
Já o colunista e apologista do Jornal Nosso Setor Célio
Roberto diz que Deus usa quem ele quer e como quer, mais sempre respeitando os
limites de cada um. Deus pode usar uma criança, mas nos limites de uma criança.
É visto na Bíblia o exemplo de Jesus no meio dos doutores com apenas 12 anos de
Idade e que Ele foi o garoto mais importante e especial para Deus. Quando Jesus
foi encontrado no meio dos doutores, não estava ensinando e dando lição de
moral ou de teologia nos doutores da Lei, como afirmam alguns. Ele estava ouvindo-os
e interrogando-os. Diante das respostas para um garoto de 12 anos, os mestres
ficaram maravilhados. Não vemos em Jesus um pregador Mirim. Nem em João Batista
ou Paulo, a quem o Senhor escolheu ainda no ventre. Deus criou o ser humano, e
conhecendo a sua estrutura, respeita os limites.
Célio afirma que na parábola dos talentos, está escrito que o
Senhor usa cada um conforme a capacidade que tem. Por isso, ele não usa como
quer, mas respeitando os limites de cada ser humano. Outro fator interessante,
é que tudo tem um tempo determinado por Deus, e ele sabe esperar. “Não sou
contra os pregadores mirins, só acho que eles não têm o conhecimento e a
estrutura para fazer o serviço de uma pessoa adulta. E Deus sabe disso e
respeita os limites de todos nós. Pregar o evangelho, especialmente para
multidões e para pessoas não crentes, exige muito preparo de um pregador,
coisas que uma criança dificilmente tem. Precisamos tomar cuidado com isso”, conclui.
Para o pastor José Wellington Costa Júnior (vice-presidente
do ministério do Belém) os pregadores mirins precisam desfrutar da infância, adolescência
e mocidade, merecendo uma atenção especial, pois desde criança se tornam referência.
Por pregarem a Palavra precisam ser acompanhados de perto pelos pais e seus
pastores e precisam de apoio, reconhecimento, incentivo do ministério e acima
de tudo de oração para que o Senhor os use sempre.
“É importante que participem da atividade da igreja, de
acordo com a faixa etária, principalmente da Escola Bíblica Dominical. O
pregador mirim tem de saber desde cedo que para pregar precisa ouvir”, afirmou.
Pastor Wellington Júnior finaliza dizendo que acima de tudo, algo precisa ficar
gravado nos corações dos pequenos preletores: “Quem tem mensagem para dar é o
Senhor, portanto a glória será sempre pra Jesus”.
A cada dia parece aumentar a quantidade de pregadores mirins,
haja vista a quantidade de sites que
divulgam esses pequenos notáveis. Para mim, o importante é que o evangelho seja
pregado, mas que criança pregue como criança e que adulto nunca pregue como “menino”.
Alex Silva
9 comentários:
A Palavra de Deus nos orienta a ensinarmos os nossos filhos nos caminhos do Senhor, pois quando forem velhos não se desviarão dele.
Nem no Velho, nem no Novo Testamento encontramos crianças ensinando aos adultos. Toda orientação bíblica é sempre os pais, os mais velhos, os anciãos ensinarem os mais novos.
Usar metódicamente crianças para pregar, para orar em público, curar e profetizar é despropósito sem fim. Dentre os vários males que causa, um deles é de tirar da criança a benção de brincar, ser criança e viver sua infância sem compromissos de gente grande. Colocar um peso antes da hora sobre uma personalidade que não está madura para entender plenamente o que está fazendo.
pais e líderes usam crianças nesse sentido, muitas vezes o fazem para atrair adeptos com a finalidade de ganhar dinheiro, pela venda de CDs e DVDs. Lamentavelmente vivemos esse tempo
Infelizmente existem pais que se comportam como verdadeiros mercenários, usando seus filhos como meio de vida para arrecadar dinheiro. Alguns para compensar suas frustrações, outros para alimentar seu fanatismo religioso;
com isto, as crianças tem sua infância roubada e uma má formação psicológica.
é impossível que uma criança compreenda a profundidade do que está lendo nas páginas da Escritura a ponto de transmitir com o peso da pregação.
Em geral a carreira dos pregadores mirins se encerra com a infância. Poucos se tornam pastores quando adultos. É claro que a oratória desenvolvida nos cultos pode ser útil ao longo da vida. Mas de modo geral, o púlpito se transforma em mero registro do passado ou até mesmo em objeto de mágoa
Obrigado por seus comentários! :)
Quezia...
Na atualidade ainda é possível ver essa exploração sendo efetuada através de nossas crianças. Crianças podem e são bençãos de Deus para a vida das pessoas. Porém, o que não deve ocorrer é o excesso, pois as crianças precisam viver de acordo com sua faixa etária, ou seja, sem pular certas etapas de suas vidas. Por isso, acredito que Deus usa as crianças, assim como usou aquele menino com 5 pães e 2 peixinhos, todavia, é preciso ter cuidado com essa nova tendência que ten invadido as nossas Igrjas.
Sou a favor de que filhos de pais evangélicos devam ser criados na Casa do Senhor, lógico que com moderação.
Criança, independente de religião tem que ter uma infância normal.
A religião deve ser ensinada à criança e não imposta, como a maioria dos pais fazem (sejam estes evangélicos ou não).
Pais não conseguem formar personalidade de um filho, pois este já nasce com personalidade própria.
Acho um absurdo certos adultos "ignorantes" usarem a imagem de um anjo inocente para pregar a palavra de Deus que é algo tão precioso.
Esta criança com certeza não tem noção do que está transmitindo, ela apenas tenta imitar alguém muito próximo do seu convívio diário.
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